05/08/2013 16h43
- Atualizado em
05/08/2013 18h53
Renato nega rebeldia, diz não saber a razão da rescisão e chora em coletiva
Mais de um mês após ser demitido via site oficial, atleta
concede entrevista e se emociona ao comentar a saída do Flamengo: 'Fui
muito humilhado'
Por Richard Souza*
Rio de Janeiro
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Emoção tomou conta de Renato durante a
entrevista coletiva (Foto: Richard Souza)
Renato
Abreu disputou 271 partidas, marcou 73 gols e conquistou três títulos
com a camisa do Flamengo. Agora, é adversário do clube na Justiça. Na
última sexta-feira, ele e seu advogado, Paulo Reis, entraram com uma
ação contra o Rubro-Negro em razão de sua demissão. Além de R$ 1,5
milhão referente aos seis últimos meses do seu vínculo, que era válido
até dezembro de 2013, o jogador pede uma indenização por danos morais. O
representante do ex-camisa 11 calcula que ele conseguirá receber pelo menos R$ 3 milhões do Flamengo.
Na tarde desta segunda-feira, Renato concedeu entrevista coletiva para
falar sobre o assunto. O jogador recebeu os jornalistas no escritório do
empresário dele, Cláudio Guadagno, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do
Rio. Falou por uma hora e meia, emocionou-se várias vezes,
principalmente ao falar das filhas, da mãe e da torcida rubro-negra. Ao
entrar na sala, pediu a palavra e só depois de um longo pronunciamento
começou a responder perguntas. O jogador negou qualquer tipo de problema
de relacionamento com companheiros, dirigentes ou o técnico Jorginho,
comandante na época de sua saída. Afirmou que por muitas vezes desde o
desligamento chorou escondido da esposa (Karina) e das filhas (Karen,
Rebeka e Renata) e repetiu o que seu advogado dissera há duas semanas:
sente-se humilhado pelo Flamengo.
Nunca fiz panela em grupo nenhum. Nunca precisei disso. Não vou fazer.
Com a diretoria, muito menos. Nunca fiz nada a não ser ajudar"
Renato
- Fui muito humilhado, exposto. Fiquei muito triste, jamais pensei que
aconteceria comigo. São 15 anos como profissional, mas dez anos de
futebol em times amadores, brigando pelo pão de cada dia. É a primeira
vez que isso acontece comigo. Realmente fiquei muito chateado, chorei
muito em casa, com minha família. Pelo carinho que tenho pelo Flamengo
desde 2005, o respeito e gratidão pelo Flamengo são eternos. Isso jamais
sairá da minha cabeça e do meu coração. A todo momento dei respeito e
fui respeitado. Só nesse momento que aconteceu uma coisa dessa, uma
forma desrespeitosa, poderia ser diferente. Até porque cheguei no
Flamengo em 2005 e em nenhum momento deixei de me esforçar, fazer tudo
que estava determinado pelo meu contrato. Ou até mais. Muitas vezes
acabei abrindo mão de muita coisa para poder ajudar de alguma forma.
Mas são coisas que fazem parte da vida, que aconteceram. Você ser
mandado embora de um clube, de um trabalho, é normal. Mas até agora
vocês não sabem e nem eu sei o que aconteceu.
Aos 35 anos, o jogador até falou em encerrar a carreira, mas logo
depois afirmou que ainda tem condições de jogar em alto nível. A saída
conturbada o pegou de surpresa, mas Renato pretende voltar ao Flamengo.
- Um dia, se tiver que voltar, espero que não demore muito, que eu
volte ao clube. Um dia eu volto. Pode ser daqui a cinco anos, dez anos,
com cabeça branca. Quero encerrar meu ciclo no Flamengo de alguma forma.
Renato Abreu coça a testa durante a entrevista coletiva que concedeu (Foto: Richard Souza)
Renato foi demitido via site oficial do Rubro-Negro no dia 17 de junho.
No início de julho, o departamento de futebol ordenou que o jogador
voltasse a treinar separamente, mas ele se negou. Na primeira rodada de
negociação entre as partes, logo que o clube anunciou a decisão, o
Flamengo propôs um acordo: pagar R$ 500 mil a Renato, um terço do que
ele tem direito a receber pelo restante do contrato. A oferta foi
prontamente descartada pelo atleta. A partir dali, decidiu ir à Justiça.
Desde o início do Brasileirão, Renato se envolveu em algumas situações
polêmicas. Vaiado contra a Ponte Preta, após perder um pênalti, não
reagiu bem e questionou a posição da torcida. Na partida seguinte,
diante do Atlético-PR, marcou o gol do empate por 2 a 2 e tirou a camisa
durante a comemoração. A atitude gerou um puxão de orelhas por parte da
diretoria por conta da obrigação da exposição dos patrocinadores. Por
fim, na derrota para o Náutico, em Florianópolis, foi expulso após
tentar concluir uma cobrança de escanteio com a mão.
Fiquei muito mal duas semanas seguidas. Minha esposa não percebia, mas
fiquei. Não brincava com minhas filhas. Chorei no banheiro muitas
vezes"
Renato
Internamente, a diretoria acredita que Renato Abreu boicotou o trabalho
do ex-treinador Jorginho e o somatório de suas atitudes resultou na
demissão. Ele nega.
- É só olhar para minha carreira aqui no Rio e ver se alguma vez eu fiz
alguma coisa assim. Estão dizendo que briguei com o Jorginho quando fui
substituído contra a Ponte Preta. Não é verdade. É normal o jogador não
querer sair do jogo. Depois do ocorrido, pedi desculpas ao Jorginho e
ao grupo. Isso vocês podem falar com ele. O que aconteceu ficou para
trás. Não tive desgaste com ele. Ele jogou futebol e entende a cabeça do
jogador. Aquilo aconteceu e acabou. Estão especulando. Podem perguntar
se em algum clube tive problema com treinador.
O antigo camisa 11 foi demitido logo após a apresentação de Mano Menezes (Foto: Richard Souza)
Sobre o fato de ter tirado a camisa na comemoração, reconheceu o erro,
mas disse que em nenhum momento foi advertido sobre o assunto.
Estava com muita vontade de entrar com minha outra filha no Maracanã, ter uma foto. Isso me tiraram"
Renato
- Falaram em tirar a camisa. Qual jogador nunca tirou a camisa na
comemoração? Entrei no jogo e nem me dei conta naquela hora. Alegaram
que me chamaram atenção. Tudo mentira. Ninguém falou comigo sobre isso.
Confira os principais trechos da entrevista:
Sonho de voltar ao Maracanã pelo Fla
- A última coisa que queria era acontecer isso. Estava com muita
vontade de entrar com minha outra filha no Maracanã, ter uma foto. Isso
me tiraram. Meu sonho era encerrar minha carreira no Flamengo. A vida
segue. Isso não vai me impedir de levantar a minha cabeça, seguir em
frente, mesmo com toda a decepção, com tudo que aconteceu. Vou procurar
trabalhar da mesma forma, em todos os lugares. Vou ser profissional como
sempre fui.
Processo da saída
Estão dizendo que briguei com o Jorginho quando fui substituído contra
a Ponte Preta. Não é verdade. É normal o jogador não querer sair do
jogo. Depois do ocorrido, pedi desculpas ao Jorginho e ao grupo. Isso
vocês podem falar com ele. O que aconteceu ficou para trás. Não tive
desgaste com ele. Ele jogou futebol e entende a cabeça do jogador.
Aquilo aconteceu e acabou. Estão especulando "
Renato
- No começo do ano, tinha uma viagem para fazer e pediram para eu me
apresentar. Estava com tudo certo para resolver alguns problemas
pessoais. Já que era no tempo de folga, ia para resolver. Na época,
pediram para eu me apresentar porque seria muito importante. Convenci a
minha esposa e não fomos. Mas na pausa para a Copa das Confederações eu
fui lá. Quando voltei, assim que botei o pé no aeroporto, meu empresário
me ligou dizendo que eu estava demitido. E disse que tinha de esperar o
grupo viajar para ir buscar minhas coisas. Chorei, pois a primeira
coisa que pensei foi em entrar com minhas filhas no Maracanã. Queria
saber do meu empresário o que tinha acontecido, mas ele disse que não
tinham alegado. Sou um jogador de identificação com o clube, assim como o
Leonardo Moura. Não esperaram eu me apresentar para falar olho no olho.
Eu queria saber o que aconteceu, pelo menos isso. Para deitar minha
cabeça no travesseiro e saber o que fiz. Essa resposta estou esperando
até agora. Fiquei muito mal duas semanas seguidas. Minha esposa não
percebia, mas fiquei. Não brincava com minhas filhas. Chorei no banheiro
muitas vezes. Você vê a declaração do presidente do Flamengo dizendo
que foi por parte técnica? Como pode isso se até momento eu era o
vice-artilheiro do time? Como você pode ser escalado como titular. Uma
pessoa fala uma coisa, que foi pela expulsão, pela camisa, por briga
pelo treinador, outro fala por parte técnica. Na mesma entrevista o
presidente disse que sou um dos melhores batedores de falta do país e
depois disse que saí por deficiência técnica. É uma contradição.
Chegada do Mano influenciou?
- Eu acredito que não. Vi a declaração dele quando chegou, que só ia
tirar base do que aconteceria com ele para definir o grupo de trabalho.
Se ele tivesse tempo para ouvir, ele veria o meu lado. Foi ele que me
deu a única oportunidade de vestir a camisa da Seleção. Isso sou grato
pelo resto da vida. Não sei se ele teve alguma interferência no que
aconteceu, não sei se falaram com ele alguma coisa, se alguém do
Flamengo falou algo com ele ou algum outro treinador. Acredito que não.
Eu quero acreditar que não foi ele.
Contato com a diretoria
Renato Abreu fica com os olhos marejados durante
a entrevista coletiva (Foto: Richard Souza)
- Procurei, liguei para algumas pessoas do clube. Disseram que só
poderia ir quando o time saísse para ir a Pinheiral. Procurei saber o
que tinha acontecido e ninguém soube dizer o que aconteceu. Todo mundo
ficou assustado com o que aconteceu. Mas vocês vão sempre ao clube podem
perguntar e nem eles sabem. Eu procurei saber e estou procurando saber
até hoje. Podem perguntar ao meu procurador, para as pessoas que
trabalharam lá. Eu não tenho nem como desconfiar, não sei o que fiz. Se
tivesse feito alguma coisa dentro do grupo, ser mau caráter, algum tipo
de panela, nunca fiz panela em grupo nenhum. Nunca precisei disso. Não
vou fazer. Com a diretoria, muito menos. Nunca fiz nada a não ser
ajudar. Duas semanas antes das férias (para a Copa das Confederações),
conversei com o Wallim, ele me procurou dizendo que contava comigo, que o
time precisava da minha ajuda para levantar a molecada. Conversei com
ele numa boa. Disse que ajudaria conversando com os meninos dentro de
campo. Ele falou “então está bom, conto com você até o fim do ano para
sairmos dessa situação”. Aí aconteceu o que vocês sabem.
Problemas com Jorginho
Se foi um gol de mão, tirar a camisa, o futebol vai acabar. Lá dentro
do futebol é calor, intensidade o tempo todo, você não planeja tirar a
camisa, botar a mão na bola, para poder fazer o gol. Seria muito otário
com toda a tecnologia que tem hoje. Isso não tem sentido"
Renato
- Nunca tive problema com treinador nenhum. Se quiserem entrevistar
todos os técnicos que conversaram comigo. Isaías Tinoco, que foi gerente
do clube, o Marcos Braz, tive um pequeno problema, mas pode perguntar
se tive algum problema em relação a trabalho. O que aconteceu com o
Jorginho foi algo normal de jogo. No outro dia, o Jorginho sempre teve o
hábito de falar sobre o jogo, e diante do grupo pedi desculpa. Acabou
ali. Ele era o comandante, disse que tinha errado até o momento. Mas a
minha vontade era estar junto com o time para poder ajudar. O que
aconteceu acontece com muitos jogadores e que não aconteceria mais. O
Jorginho saiu, né? E logo em seguida eu saí. Não deu para entender. Um
tinha que ter ficado pelo menos. Se o errado era eu, não poderiam
demitir o Jorginho. Dentro das condições que ele poderia fazer, ele fez.
Foi uma sequência de resultados, de três jogos seguidos, estávamos ele e
eu nesses resultados. São coisas pequenas que aconteceram comigo dentro
do clube. Com seis anos de clube, poderiam ter um pingo de respeito e
chegar e falar. Mas isso não foi a gota d’água. Tanta gente fez muito
mais e não aconteceu nada disso. Se foi um gol de mão, tirar a camisa, o
futebol vai acabar. Lá dentro do futebol é calor, intensidade o tempo
todo, você não planeja tirar a camisa, botar a mão na bola, para poder
fazer o gol. Seria muito otário com toda a tecnologia que tem hoje. Isso
não tem sentido. É uma coisa que estão querendo alegar, mas isso não
cola. O que eu fiz pelo Flamengo, eu acho que merecia um pouquinho mais
de respeito. Não quero ser mais respeitado que Adílio, Zico, Nunes. Mas
quero ser respeitado como profissional. Se meu trabalho tivesse sido
ruim, minha passagem teria sido interrompida na primeira passagem (em
2005). Mas foi o contrário. Cheguei em fevereiro de 2005, tinha um ano
de contrato com o Flamengo e teria mais um ano de contrato com o
Corinthians. Flamengo fez esforço para eu voltar, abri mão de três
salários que eu tinha e não me importei. Me senti muito feliz e acolhido
dentro do Flamengo naquela época. Tinha por respeito voltar ao clube
que estava me dando esse carinho.
Contatos com a diretoria
- A primeira coisa que me disseram é que era demissão. Demissão? Nem
afastado. O que aconteceu de lá para cá, recebi três telegramas do
Flamengo para me reapresentar ao clube e treinar afastado. Isso depois
de 20 dias. O último dizia que se eu não me apresentasse eu teria
problema. Eu tinha me apresentar ou ia correr riscos. Foram as únicas
coisas que tentaram me dizer. Mas nenhum diretor, ninguém do Flamengo,
me ligou para me falar o que aconteceu, para bater um papo. Houve uma
única vez que fui chamado para rescindir contrato. Estava tudo
apalavrado, certinho, chegou na hora o Flamengo não aceitou acertar o
que era meu. Eu não estava pedindo nada a mais. Tinha seis meses de
contrato, não poderia abrir mão do meu salário até o fim do ano. Jamais
vou abrir mão. Alguém abre mão do salário aqui? Em outras situações até
abri, mas dessa forma? Ser demitido? Foi aí que a diretoria, parte
jurídica do clube, disse que nada estava acertado. É isso até o momento.
Relação com Pelaipe
É o que meu advogado falou. Fui muito humilhado, exposto. Me colocaram
como um filho da p..., como um cara que não respeita ninguém. Mas isso
eu não sou."
Renato
- Sempre foi de profissionalismo puro. Nunca tive problema. Eu tinha
projeto dentro do Flamengo. Sempre tive carinho pela base do Flamengo
todinha. Sempre que podia batia uma bola, uma falta com os meninos,
brincava com eles. O próprio Pelaipe disse que no fim do meu contrato me
encaixaria para trabalhar dentro do clube. Minha relação sempre foi
tranquila. Se fiz algo para ele, não estou sabendo. Não sei o que fiz
para ele. Em todos os momentos que ele me pediu ajuda, a passar uma
palavra para o time, sempre me coloquei à disposição. Sempre que fui à
sala dele, foi para conversar. Não sei se ele teve algo com isso, mas
poderia dizer quem eu era para o clube. A gente sabe que algumas coisas
são inexplicáveis. Não sei se pediram a opinião de alguém. Em outras
situações, que aconteceram com o próprio Pelaipe, da minha assessoria,
fiz questão de apresentar quem eram. Houve um desentendimento com uma
pessoa no saguão do hotel antes de um jogo, conversei com ele para dar
um tempo. Estava ali para apartar, minimizar.
Relação da diretoria com os jogadores
- Sempre falei que a diretoria estava tentando fazer o melhor, de forma
certa, leal, que eram sérios. Eu acreditava nisso aí. Até na clareza da
forma que falavam com a gente, se pronunciaram em algumas reuniões,
falavam que o salário ia sair. A única coisa que pedia era clareza para
termos um planejamento de vida, a gente depende do salário. E sempre se
mostraram claros. Muita coisa aconteceu e sempre acolhemos com respeito e
carinho. Nunca cobrei salário na frente de vocês, talvez uma única vez,
em 2006. Sempre foram transparentes, mas não vimos essa transparência
agora. Poderiam dizer que tenho salário alto, que o clube não tem
condições de cumprir. Mas nem isso. Só na primeira passagem tive
aumento. Desde que voltei praticamente colocaram a mesma coisa.
Medidas judiciais
- É o que meu advogado falou. Fui muito humilhado, exposto. As pessoas
sabem quem eu sou. Passou talvez para 40 milhões de torcedores do
Flamengo e de outros times, uma imagem que eu não sou. Disseram que sou
briguento, que arrumo confusão com jogadores, que sou mau caráter. Fui
muito humilhado nessa situação. A imagem que vocês têm minha, é de ser
briguento dentro do campo. Mas só quem está lá dentro pode dizer. O
rosto não é dos mais bonitos, mas pela sua expressão na televisão acabam
te julgando. Me colocaram como um filho da p..., como um cara que não
respeita ninguém. Mas isso eu não sou. O que acontece no campo é lá
dentro. Jamais eu levei para fora.
Futuro
- Até nisso respeitei o clube para esperar o momento, falei que não conversaria enquanto não resolvesse.
Tenho certeza de que um dia eu volto para o Flamengo. Pode ser daqui a
cinco anos, dez anos, com cabeça branca. Quero encerrar meu ciclo no
Flamengo de alguma forma. Não me julguem pelo que não sabem. Antes,
procurem saber a minha história"
Renato
Contato do Atlético-MG
- Até agora não (Atlético-MG procurou). Mas olha aí, o Cuca foi meu
treinador. Mais uma prova de que não tive nenhum problema. Estou
esperando a rescisão do contrato para poder ouvir algum outro clube.
Vasco procurou?
- Houve especulação. Tem muita gente querendo que eu trabalhe num time
no Rio, muitos querendo que trabalhasse no Vasco, torcedores de outros
clubes. Quero resolver minha situação com o clube. Estou feliz pelo
carinho de todos. A grande maioria da torcida do Flamengo sempre esteve
do meu lado. É difícil falar um pouquinho, pois foi uma relação muito
forte. Tenho um carinho enorme por eles. O que está acontecendo não tem
nada com os torcedores. Em nenhum momento passou pela minha cabeça sair
do Flamengo.
Volta ao Flamengo
- Tenho certeza de que um dia eu volto para o Flamengo.
Despedida do clube
- Foi muito emocionante ver a despedida do Pet, Júnior, Zico. Não sei
se sou ídolo, mas estava construindo uma história legal no Flamengo. Na
primeira entrevista, disse que não prometeria título, mas dedicação. E
essa história eu construí um pouquinho. Quando saí depois da primeira
passagem, tive 13 propostas, algumas melhores que a do Flamengo. Pelo
carinho que tinha, pelo trabalho, fiz questão de voltar para o clube.
Carinho muito grande pela torcida, pelas pessoas que me acolheram lá
dentro. É emocionante ouvir muitos pedindo, é emocionante ver o carinho
deles comigo. Fiz a operação no coração, foram carinhosos quando voltei
em 2010. O que escrevi dentro do clube, podem interromper, mas ninguém
apaga. Quando alguém for lembrar das faltas, das mascotes, será
inevitável falar, mesmo que não gostem. São 15 anos como profissional,
queria só mais um tempinho. Sofri muito para chegar aqui. Tenho que
agradecer, principalmente minha mãe (pausa emocionado), meu pai. Mãe,
estou bem. Não sei se vou parar, acho que tenho ainda muita coisa para
queimar. Obrigado aos torcedores do Flamengo e aos dos outros clubes. Só
escuto que os diretores do Flamengo fizeram uma sacanagem comigo. Que
eles deveriam sair e não eu.
Ligou para Pelaipe ou Wallim?
- Ligar eu não liguei. Não tenho direito de ligar para tirar
satisfação, mas sim me dar satisfação. Sou empregado do clube. Quando
uma empresa demite alguém, você é chamado e te demitem. Isso não teve.
Seria mais elegante chegar e falar para mim que fui mandado embora. Até
porque não tenho nada contra ninguém. Não me senti no direito de ligar,
quem tinha de dar uma satisfação para mim é a pessoa que me mandou
embora. Pelo menos me chamar. Não sei se Pelaipe poderia fazer isso. Mas
mesmo assim procurei saber, esperar se alguém ia me ligar. Mas em
nenhum momento se manifestaram.
Relação com Wallim
No detalhe, a mão de Renato: o jogador negou
desavenças com a diretoria (Foto: Richard Souza)
- Minha relação com ele nunca foi de muitas conversas porque quem era o
capitão da equipe era o Léo Moura. Uma coisa que nunca tive questão de
ter é faixa de capitão para ter autoridade com a diretoria e falar
alguma coisa. Pelo meu trabalho, minha experiência, sempre que fui
chamado pelo Wallim nunca tive problema. Até momento que ele perguntou
para todos que precisava fazer para melhorar, ele perguntou para mim o
que precisava fazer para melhorar. Única coisa que falei é que eles
(dirigentes) precisavam nos apoiar, só assim iríamos longe. E foi a vez
que ele pediu para poder falar alguma coisa para os mais jovens, outra
vez me chamou para conversar e falar que contava comigo. Disse que se
precisasse da minha pessoa para ajudar, ia procurar fazer. Ele falou que
eu tinha importância grande, eu e mais uns dois jogadores. “Vou contar
com você até o fim do ano, a gente vai batendo um papo, conversando,
falando para poder acertar”. Foi o que ele disse. Nunca tive atrito com
ele, o contato com ele era menor. Não participava todas as vezes do
treinamento. Sempre cumprimentava, não tinha problema nenhum. Nunca tive
problema com diretor ou presidente. Nem com Patricia Amorim, Márcio
Braga, Kleber Leite.
Campanha da torcida pela saída dele
- São 40 milhões de torcedores, tirar 10%, sempre vai ser questionado. Se pegaram esse gancho, não sei. Acredito que não.
Jorginho disse que havia X-9 no grupo
- Eu peço para vocês ligarem agora para o Jorginho e perguntar se eu
sou X-9. Nunca precisei boicotar trabalho de ninguém para ser titular da
equipe, entregar alguém para me beneficiar. Nem na minha vida pessoal
preciso disso. Não uso da minha imagem nem para pegar fila em banco.
Tudo que tinha para falar com qualquer jogador, desde o Ronaldinho
Gaúcho, que é um fenômeno, sempre cheguei nele e em outras pessoas e
falei frente a frente. Não tenho motivo para chegar na sua frente e te
elogiar e falar de você pelas costas. Eu tenho duas pernas e dois
braços. Não preciso ficar dependendo de ninguém. Vou trabalhar.
Mensagem ao torcedor
Não estou fazendo contra o Flamengo. Se estou entrando na Justiça,
procurando meus direitos, isso que está acontecendo não é minha culpa"
Renato
- Quero agradecer aos torcedores do Flamengo, apoiando na rede social,
ajudando, me querendo em campo. Quero agradecer profundamente ao
Flamengo pelo que fez por mim. Por ter me acolhido, cheguei desconhecido
ao futebol carioca e me acolheram. Muitas coisas que aconteceram dentro
do Flamengo, minha relação com a torcida foi mais por carinho, por
afeto que eu tinha. Pelo que eu tenho. Você conseguir o respeito deles
não é fácil, não. Vocês sabem. Onde fui com o Flamengo sempre fui
respeitado. De Norte a Sul. Não teve um lugar que não fui com a torcida
que ela não me ajudou. Não estou fazendo contra o Flamengo. Se estou
entrando na Justiça, procurando meus direitos, isso que está acontecendo
não é minha culpa. Eu queria chegar no fim do ano, agradecer ao
presidente pelo carinho, queria muito encerrar a carreira no Flamengo.
Só que não aconteceu. Foi a pessoa que tomou essa decisão contra mim.
Não sei se tem alguma coisa pessoal, meu carinho por vocês (torcedores) é
eterno. Os anos vão passar, vai ter momentos bons, vão ganhar títulos,
outro jogador que bata faltas, com liderança, mas nada vai apagar o que
eu fiz dentro do clube. Nos priores momentos do clube, sempre estive
presente para ajudar. A máscara (do urubu) está lá em casa, minhas
camisas de épocas difíceis e felizes. Está lá a camisa da Copa do
Brasil. As taças e prêmios que conquistei com o Flamengo. Isso ninguém
apaga. Tenho certeza de que o conselho do Flamengo inteiro sabe do que
eu fiz pelo clube. Um dia, se tiver que voltar, espero que não demore
muito, que eu volte ao clube. Um dia eu volto. Pode ser daqui a cinco
anos, dez anos, com cabeça branca. Quero encerrar meu ciclo no Flamengo
de alguma forma. Não me julguem pelo que não sabem. Antes, procurem
saber a minha história (emocionado).Fonte Globo Esport