Inspirada no Barça, mulher treinará time da 'quarta divisão' de São Paulo

05/05/2012 07h00 - Atualizado em 05/05/2012 07h34

Inspirada no Barça, mulher treinará time da 'quarta divisão' de São Paulo

Nilmara Alves dá treino de batom e brincos, fala grosso e prioriza posse de bola e simplicidade para conduzir o Manthiqueira à Série A3 do Paulistão

Por Alexandre Lozetti e Sergio Gandolphi Guaratinguetá, SP
Imagine um time que misture a Seleção Brasileira de 1982, o carrossel holandês de 74 e o Barcelona de Messi e companhia. É o Manthiqueira, que vai disputar a partir deste domingo a quarta divisão do Campeonato Paulista. Pelo menos nos sonhos do presidente, o filósofo e maluco assumido Dado de Oliveira. Assista ao vídeo ao lado.
Para comandar o que chama de “Barcelona dos pobres”, pois prioriza posse de bola, combate chutões no tiro de meta e no escanteio, proíbe dancinhas na comemoração e integra a base à filosofia de jogo, o dirigente escolheu seu Guardiola. Ou melhor, sua Guardiola. Inspirada no colega multicampeão, Nilmara Alves será a primeira mulher a treinar um time no futebol paulista.
O Manthiqueira surgiu como escolinha, em 2005, mas só se filiou à Federação Paulista de Futebol cinco anos depois e agora disputa a Segunda Divisão estadual, embora na prática seja a quarta (antes dela existem a A1, A2 e A3). Nilmara está no projeto desde o início. Jogadora de pouco prestígio, formada em Educação Física e com diploma de treinadora, será a responsável por tentar o acesso à Série A3.
Com voz grossa, leve batom, brincos de argola e um piercing na orelha, a “professora” mescla movimentos sutis e fisionomia dura nos treinos. Posicionada no círculo central, insiste na construção de jogadas, sem pressa, na troca de passes do time que está atacando em apenas metade do gramado. Do outro lado, os demais jogadores fazem atividades físicas antes que venha a ordem para trocarem de função.
Ela não pretende abandonar a vaidade à beira do campo, mas sem exageros para não perder o foco. Vai usar uniforme do clube. O desafio é amenizado pela estabilidade. Nilmara tem a garantia de que ficará no cargo até o fim do campeonato. Tempo para quebrar o preconceito.
- Fico mais tranquila porque futebol não é prazo curto. Na equipe as pessoas me conhecem, sabem do meu potencial. Mas pessoas de fora disseram que mulher não conhece muito futebol e têm que estar na cozinha - diz a treinadora, de 31 anos.
O que me irrita é querer dar o passe mais difícil tendo o companheiro do lado. Tem que facilitar a jogada para não tomar contra-ataque"
Nilmara Alves
Quase todas as ordens no treino da técnica e seus dois auxiliares remetem à simplicidade, filosofia pregada pelo presidente, que dá pitacos na escalação e na formação do time, já anunciada: 4-3-3.
Jovem, o grupo já se acostumou à presença feminina, principalmente os que trabalham com Nilmara desde a escolinha, e jura estar "fechado com a professora". A maior dificuldade está no vestiário. Agora, o roupeiro faz a função de “porteiro” para evitar constrangimentos.
- A gente entra primeiro, faz o que tem de fazer, se troca, e quando todo mundo está pronto a Nilimara entra e dá a preleção, aquele incentivo - explicou o atacante Sidney, de 20 anos.
- Nunca aconteceu de ela entrar antes da hora, a gente espera que não aconteça. Seria estranho (risos) - completou o zagueiro Gabriel, de 21.
Natural de Aparecida, devota de Nossa Senhora, Nilmara se ampara na capela e nas imagens do Centro de Treinamento. Sim, o Manthiqueira, cuja folha salarial é de R$ 50 mil, incluindo elenco e comissão técnica, tem um CT com dormitórios, ambulatório, consultório odontológico e refeitório na zona rural de Guaratinguetá, a 176 km da capital.
Nilmara Guaratingueta (Foto: Gustavo Tilio / Globoesporte.com)A técnica Nilmara dá instruções para seus jogadores (Foto: Gustavo Tilio / Globoesporte.com)
A camisa é laranja em homenagem à Holanda, lembrada também no símbolo com a palavra “Rinus” (menção a Rinus Michels, técnico da Holanda na Copa do Mundo de 1974). As meias verdes remetem à Serra da Mantiqueira.
A estreia será neste domingo, às 10h, contra o ECUS, em Suzano. A técnica e seus pupilos esperam por provocações até dos adversários. O presidente já adiantou que ela não vai ouvir gritos muito agradáveis das arquibancadas. Mas nada parece abalar Nilmara. Fã de Guardiola, Muricy Ramalho e Mano Menezes, ela está disposta a fazer história e abrir as portas para outras mulheres.
- Sou tranquila. O que importa é os jogadores e o presidente confiarem em mim. É um desafio muito grande, mas espero superar com força de vontade e dedicação. O resto eu tiro de letra.
Nilmara Guaratingueta (Foto: Gustavo Tilio / Globoesporte.com)Os jogadores, a maioria bem jovens, ouvem Nilmara com atenção (Foto: Gustavo Tilio / Globoesporte.com)Fonte Globo Esport


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