05/05/2012 07h00 - Atualizado em 05/05/2012 07h34
Inspirada no Barça, mulher treinará time da 'quarta divisão' de São Paulo
Nilmara Alves dá treino de batom e brincos, fala grosso e prioriza posse de bola e simplicidade para conduzir o Manthiqueira à Série A3 do Paulistão
Para comandar o que chama de “Barcelona dos pobres”, pois prioriza posse de bola, combate chutões no tiro de meta e no escanteio, proíbe dancinhas na comemoração e integra a base à filosofia de jogo, o dirigente escolheu seu Guardiola. Ou melhor, sua Guardiola. Inspirada no colega multicampeão, Nilmara Alves será a primeira mulher a treinar um time no futebol paulista.
O Manthiqueira surgiu como escolinha, em 2005, mas só se filiou à Federação Paulista de Futebol cinco anos depois e agora disputa a Segunda Divisão estadual, embora na prática seja a quarta (antes dela existem a A1, A2 e A3). Nilmara está no projeto desde o início. Jogadora de pouco prestígio, formada em Educação Física e com diploma de treinadora, será a responsável por tentar o acesso à Série A3.
Com voz grossa, leve batom, brincos de argola e um piercing na orelha, a “professora” mescla movimentos sutis e fisionomia dura nos treinos. Posicionada no círculo central, insiste na construção de jogadas, sem pressa, na troca de passes do time que está atacando em apenas metade do gramado. Do outro lado, os demais jogadores fazem atividades físicas antes que venha a ordem para trocarem de função.
- Fico mais tranquila porque futebol não é prazo curto. Na equipe as pessoas me conhecem, sabem do meu potencial. Mas pessoas de fora disseram que mulher não conhece muito futebol e têm que estar na cozinha - diz a treinadora, de 31 anos.
O que me irrita é querer dar o passe mais difícil tendo o companheiro do lado. Tem que facilitar a jogada para não tomar contra-ataque"
Nilmara Alves
Jovem, o grupo já se acostumou à presença feminina, principalmente os que trabalham com Nilmara desde a escolinha, e jura estar "fechado com a professora". A maior dificuldade está no vestiário. Agora, o roupeiro faz a função de “porteiro” para evitar constrangimentos.
- A gente entra primeiro, faz o que tem de fazer, se troca, e quando todo mundo está pronto a Nilimara entra e dá a preleção, aquele incentivo - explicou o atacante Sidney, de 20 anos.
- Nunca aconteceu de ela entrar antes da hora, a gente espera que não aconteça. Seria estranho (risos) - completou o zagueiro Gabriel, de 21.
Natural de Aparecida, devota de Nossa Senhora, Nilmara se ampara na capela e nas imagens do Centro de Treinamento. Sim, o Manthiqueira, cuja folha salarial é de R$ 50 mil, incluindo elenco e comissão técnica, tem um CT com dormitórios, ambulatório, consultório odontológico e refeitório na zona rural de Guaratinguetá, a 176 km da capital.
A técnica Nilmara dá instruções para seus jogadores (Foto: Gustavo Tilio / Globoesporte.com)
A camisa é laranja em homenagem à Holanda, lembrada também no símbolo com a palavra “Rinus” (menção a Rinus Michels, técnico da Holanda na Copa do Mundo de 1974). As meias verdes remetem à Serra da Mantiqueira.A estreia será neste domingo, às 10h, contra o ECUS, em Suzano. A técnica e seus pupilos esperam por provocações até dos adversários. O presidente já adiantou que ela não vai ouvir gritos muito agradáveis das arquibancadas. Mas nada parece abalar Nilmara. Fã de Guardiola, Muricy Ramalho e Mano Menezes, ela está disposta a fazer história e abrir as portas para outras mulheres.
- Sou tranquila. O que importa é os jogadores e o presidente confiarem em mim. É um desafio muito grande, mas espero superar com força de vontade e dedicação. O resto eu tiro de letra.
Os jogadores, a maioria bem jovens, ouvem Nilmara com atenção (Foto: Gustavo Tilio / Globoesporte.com)Fonte Globo Esport
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