No futebol, fama e salários milionários são para poucos. Mas diz o
ditado que o trabalho compensa e, pelo menos no Sampaio Corrêa, um dos
seis times da série B que brigam pelo acesso à primeira divisão, o
esforço de quem rala por um lugar ao sol está sendo premiado. Lá, jogar
nas onze não é o bastante. Sem luxo ou privilégios, os jogadores atuam
improvisados como motoristas de ônibus e ajudantes de obra na construção
do estádio para suprir as carências do clube. Foi assim, com múltiplas
funções, que eles obtiveram o primeiro lugar do grupo B na etapa
classificatória e, hoje, lutam pela terceira vitória em três jogos na
segunda fase, contra o Tigres, às 15h, em Sampaio Corrêa.
Apelidado
de Lourivalzão, o estádio começou a ser construído em 2007, um ano após
a fundação do clube. As arquibancadas que tiveram os primeiros pilares
levantados em 2009 agora aguardam a pintura e a colocação de 2.500
cadeiras doadas, após retirada do Maracanã. Para que a obra chegasse a
tal estágio, foi necessária a colaboração dos jogadores em duplo
expediente.
— Às vezes, o material da obra chegava à noite e não
tinha ninguém para descarregar o caminhão. Aí vínhamos ajudar.
Sexta-feira passada, os Bombeiros vieram fazer vistoria de manhã. Como o
chão estava cheio de pedaços de madeira, fizemos um mutirão de limpeza
na quinta à noite. Todo mundo vem de boa vontade — conta o atacante
Rômulo.
Dezoito jogadores moram em uma pousada no bairro da
Basileia, distrito de Sampaio Corrêa. Nos quartos, três dividem um
frigobar, uma estante modesta e uma televisão. Videogame, DVD e
cafeteira se revezam nos cômodos, já que só há um de cada para todos.
O trajeto da pousada para os treinos é feito em um
microônibus cedido pela Prefeitura de Saquarema. Na direção do veículo,
ora vai o centroavante Adão, ora Willy, da mesma posição. Se Adão é
titular em campo, no volante, ele senta no banco de reserva.
—
Faço o que posso para ajudar. Mas se atolar, todo mundo tem que descer
para empurrar — brinca Willy, que não conseguiu evitar o pior ontem, no
caminho de volta para a pousada. Com o solo encharcado por causa da
chuva, o ônibus não pôde prosseguir na estrada e os jogadores tiveram
que completar o percurso a pé.
Como passageiro, Adão anima o
ônibus cantando forró. É dele, do atacante Melino e do meia Bersan o
maior salário do clube: R$ 1.500. A folha salarial é de R$ 21 mil.
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